A História da Enfermagem em Genética e Genômica
Veja nesse espaço a história da genética e genômica na prática do enfermeiro.
Em 1962, Brantl e Esslinger (1962) publicaram um artigo que apresenta a necessidade da inclusão da genética no currículo do enfermeiro. Em 1963, no condado de Contra Costa na Califórnia, foi iniciado um programa de saúde pública com a realização de heredogramas por enfermeiras. (Jolly et al 1965). Nesse programa, o enfermeiro realizava a avaliação de indivíduos e famílias com doenças congênitas e crônicas, que iniciava um trabalho educativo quando se encontrava a necessidade de orientação. (Jolly et al 1965).
Abrahão (2000) cita que com os avanços da citogenética, em 1966, enfermeiras aperfeiçoaram ações em saúde pública, obtendo informações para a história familiar, traduzindo resultados citogenéticos, e discutindo as implicações para o risco de condições genéticas.
Em 1988 foi registrada a participação de uma enfermeira, docente da Universidade Federal de São Paulo, no Serviço de Medicina Fetal. A partir de 1994, junto à disciplina de Saúde Pública, foram incluídos conceitos básicos de aconselhamento genético e de medicina fetal. (Abrahão 2000)
Neste mesmo ano, um grupo composto por oito enfermeiras, fundou a Sociedade Internacional de Enfermagem em Genética (ISONG). (Santos e Nascimento, 2006).
Em 1998, durante o congresso da ANA (American Nursing Association) é aprovado o documento “Scope and Standards of Genetic Clinical Nursing” (ISONG, 1998), preparado pela ISONG, com segunda edição publicada em 2016. (American Nurses Association, 2016).
No início dos anos 2000, registou-se o trabalho de duas enfermeiras que atuaram no Registro de Câncer Familiar e no Departamento de Oncogenética do Hospital A.C. Camargo. (Flória-Santos e Santos, 2004).
Em razão dessa atuação, foi realizada uma consulta do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREN-SP) em 2001, questionando o suporte legal para a atuação do enfermeiro como conselheiro genético. O parecer foi favorável, recomendando-se formação específica em genética para a atuação. (Flória-Santos e Santos, 2004).
Em 2005 foi criada a Sociedade Enfermagem em Genética (SOBREGEN) no 1º Simpósio Nacional de Genética Clínica e Enfermagem, durante o XVII Congresso Brasileiro de Genética Clínica, em Curitiba. (Silva et al 2005). Essas iniciativas perderam-se em razão de dificuldades pessoais e organizacionais.
Na publicação da Política Nacional de Atenção às Doenças Raras, em 2014 (Ministério da Saúde, Portaria número 199/2014), determinou-se a participação do enfermeiro nas equipes dos Serviço de Atenção Especializada em Doenças Raras e Serviços de Referência em Doenças Raras. Nesse contexto, um grupo de enfermeiros se reuniu, e solicitou ao Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), participação no grupo de trabalho para a implementação da política.
Em 2014, a resolução nº 468/2014, do COFEN normatiza a atuação do Enfermeiro em Aconselhamento Genético. (COFEN, 2022).
Em 2015, no XXVII Congresso Brasileiro de Genética Médica, em Ribeirão Preto (SP), foi realizado o I Congresso Brasileiro de Enfermagem em Genética e Genômica (CBEGG). Neste congresso, foi lançada a discussão para a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Genética e Genômica (SBEGG). (SBGM, 2022)

Em 2016, na cidade de Belém (PA), foi realizado o II CBEGG, em conjunto com o XVIII Congresso de Genética Médica e o Congresso LatinoAmericano de Genética Humana. (SBGM, 2022). Ainda neste ano, membros da futura diretoria da SBEGG, iniciaram a participação na SOCIESPE (Sociedade de Especialistas), uma iniciativa da ABEN-SP para congregar as sociedades de especialidades de enfermagem para estimular o progresso da profissão. (ABEN-SP, 2022)

Em 2017, na cidade de Bento Gonçalves (RS), foi realizado o III CBEGG, em conjunto com o XIX Congresso de Genética Médica. Nesse congresso, tomou posse a primeira diretoria da SBEGG. Deu-se início ao processo de registro e oficialização da SBEGG. (SBGM, 2022)

Em 2018, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), foi realizado o IV CBEGG, em conjunto com o XXX Congresso de Genética Médica e o VII Congresso Brasileiro da SBTEIM. (SBGM, 2022). A partir desse congresso, a SBEGG optou por realização do congresso a cada dois anos, com a realização de eventos de menor porte nos demais anos.

Em 2018, o COFEN publicou a Resolução nº 577, que reconheceu a Especialidade Enfermagem em Genética e Genômica, pavimentando o caminho para a primeira prova de Títulos da SBEGG, realizada em 2020 e com a titulação dos primeiros dez especialistas em enfermagem em Genética e Genômica do Brasil. (COFEN, 2018; SBEGG, 2022)
Em 2019, realizamos o I Encontro de Enfermagem em Genética e Genômica, realizado em Salvador, em conjunto com o XXXI Congresso de Genética Médica.
Com a pandemia em 2020, a SBEGG abraçou o desafio de lançar o V Congresso de Enfermagem em Genética e Genômica. O evento foi online, com o tema “O Legado de Florence Nightingale”. Nesse congresso, tivemos a participação de enfermeiro de todo o Brasil, e destacamos a participação da Enfermeira Kathleen Calzone, pesquisadora do National Cancer Institute (Estados Unidos).

Uma característica dos nossos eventos, é a participação não só de enfermeiros, mas também de outros profissionais de saúde, pacientes e membros de associação de pacientes, em linha com a missão da SBEGG.
Referências
Abrahão AR. A integração da genética na prática clínica do enfermeiro. Acta Paul Enferm 2000; 13(1): 203-6.
American Nurses Association. Scope and Standards of Practice. Genetics/Genomics Nursing. 2.ed. American Nurses Association, Silver Spring, 2016.
Associação Brasileira de Enfermagem - Seção São Paulo. (ABEN-SP). SOCIESPE. Disponível em https://abensp.org.br/sociesp/ Acessado em 7 de fevereiro de 2022.
Brantyl V, Esslinger P. Genetics: implications for nursing curriculum. Nurs Forum 1962; 90-100.
Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº468/2014. Normatiza a atuação do Enfermagem em Aconselhamento Genético. Disponível em http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-04682014_29065.html Acessado em 7 de fevereiro de 2022.
Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº 577, de 5 de junho de 2018. Atualiza, no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, os procedimentos para Registro de Títulos de Pós-Graduação Lato e Stricto Sensu concedido a Enfermeiros e aprova a lista das especialidades. Disponível em http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-577-2018_63569.html Acessado em 7 de fevereiro de 2022.
Flória-Santos M, Nascimento L. Perspectivas históricas do projeto Genoma e a evolução da enfermagem. Rev Bras Enferm 2006;59:358-361.
Flória-Santos M, Santos EMM. Papel da Enfermagem na Genética do Câncer. In: Ferreira CG, Rocha JCC, organizadores. Oncologia Molecular. Rio de Janeiro (RJ): Editora Atheneu; 2004. p. 357-63.
International Society of Nurses in Genetics. Statement on the scope and standards of genetics nursing. American Nurses Publishing, Washington (DC): American Nurses Association; 1998.
Jolly E, Blum H, Keyes G, Smith G. Experiencies of Public Health Nurses in Obtaining Family Pedigrees. Public Health Reports 1965; 41-48.
Ministério da Saúde. Portaria nº 1999, de 30 de janeiro de 2014. Institui a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, aprova as Diretrizes para
Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e institui incentivos financeiros de custeio. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt0199_30_01_2014.html Acessada em 7 de fevereiro de 2022.
SBGM. Anais do Congresso. Disponível em https://www.sbgm.org.br/anais-do-congresso.aspx Acessado em 7 de fevereiro de 2022.
Silva JS, Balsanelli M, Sáez RE. SOBREGEN: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENFERMAGEM EM GENÉTICA. 57º Congresso Brasileiro de Enfermagem, 3 a 7 de novembro de 2005. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/57cbe/resumos/1725.htm Acessado em 7 de fevereiro de 2022.
VIII CBEGG. Disponível em https://doity.com.br/v-congresso-brasileiro-de-enfermagem-em-genetica-e-genomica Acessado em 7 de fevereiro de 2022.